Documentos que se referem à história das regiões do Médio
e Alto Solimões do Amazonas e de cidades do interior como Santo Antônio do Iça,
Amaturá, Fonte boa e Tefé e que fazem parte do acervo histórico do município de
Tefé, com sede localizada a 522,61 quilômetros, em linha reta, de Manaus, está
sendo reorganizado com o objetivo de difundir e democratizar o acesso aos
documentos que compõem o acervo.
O projeto para restaurar o conjunto bibliográfico está
sendo fomentado por meio do Programa Pró-Acervo, da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), com apoio do Governo do Estado. De
acordo com o coordenador, Tenner Inauhyni de Abreu, ações de higienização,
organização, digitalização e catalogação dos documentos do acervo, estão sendo
realizadas. “Dada à dimensão e importância das obras, que contém inclusive
documentos em francês e holandês sobre a região, uma intervenção no sentido de organizá-lo
e democratizá-lo se faz urgente, visto que são documentos que remontam aos
séculos 19 e 20 e trazem consigo aspectos históricos dessas cidades. São
documentos de batismo, casamento e periódicos que constituem exemplos
significativos que, se bem explorados, possibilitam uma maior compreensão
histórica da região”, explicou Abreu.
Os documentos estão sob a guarda da prelazia de Tefé, no
prédio da Rádio Rural. O projeto de intervenção do acervo está sob a direção de
uma equipe composta por três professores da área de História e estudantes de
graduação do curso de Licenciatura em História, da Universidade do Estado do
Amazonas (UEA).
Tenner destaca que alguns trabalhos de iniciação
científica financiados pela Fapeam em parceria com o Programa Institucional de
Extensão da UEA (PROGEX/UEA) já têm mobilizado esforços e realizado ações nessa
área. A proposta também foca na ampliação e intensificação do processo de
preservação da história e da memória da região Amazônica.
O projeto teve início no mês de agosto de 2014 e, para
atingir os objetivos propostos, algumas ações específicas acabaram se
constituindo como fundamentais, entre elas a instauração de processos de
higienização do acervo histórico de Tefé com uma meta de higienizar 100% dele
por meio de um “check list” que vai acompanhar a execução do trabalho com prazo
estipulado de oito meses. “Esse processo resultará na construção de catálogos
de identificação e caracterização dos documentos para serem disponibilizados para
aqueles que queiram se inteirar do que existe no acervo. Por fim, digitalizar
os documentos mais deteriorados e mais significativos historicamente,
democratizando o acesso por meio de sua organização e difusão, constitui-se o
último objetivo e meta a ser alcançada”, explicou o coordenador.
Importância da pesquisa
Para Tenner, as documentações do acervo de Tefé são
significativas para os estudos históricos, pois se colocam como importantes
pistas para o processo de reconstrução de complexas relações sociais
articuladas no século 19. Por ela, é possível reconstruir redes de relações
entre variados grupos – comerciantes e indígenas escravizados e/ou libertos,
por exemplo – assinalando suas características e dinâmicas.
“Tal documentação pode esclarecer questões ligadas à
estratificação social, sistema de parentescos, relações de vizinhança, sistemas
de casamentos, entre outros. É possível, mediante esses registros, realizar uma
história demográfica ou das famílias e, se articulados a outros documentos como
jornais, revistas, boletins e afins, podem ainda fornecer uma série de
informações relevantes. Por isso a importância de manter viva essa história
através desse acervo”, afirmou Abreu.
O coordenador da pesquisa ressalta, ainda, sobre o
benefício do resgate e preservação do acervo, que beneficiará a própria região
Amazônica, em especial o Amazonas e seus pesquisadores, que poderão ter acesso
a essa documentação para refletir, por meio dela, sobre a região nas suas
dimensões política, econômica, social e cultural.