Moradores de comunidades
isoladas no interior do Amazonas que sofrem com falta de água potável
começaram a ser cadastrados pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS), no programa Água para Todos.
As missões de registro começaram há duas semanas com cadastro de famílias em
Manaquiri, Itacoatiara, Anamã, Caapiranga e Manacapuru. Cerca de 1,2 mil
famílias foram cadastradas até a semana passada. As
primeiras
instalações estão previstas para maio.
Mais
de 10,1 mil famílias em dezesseis municípios serão contempladas com o programa
Água para Todos. O programa consiste na instalação nas casas de um sistema de
captação de água da chuva. Cada residência incluída vai ganhar telhados novos
(quando necessário), calha e uma caixa de dois mil litros para a reserva da
família, nas casas em terra firme, e 500 litros nas palafitas. A cada
agrupamento de 25 casas será instalada uma caixa para a reserva comunitária,
com capacidade para armazenar cinco mil litros de água. O programa também prevê
a distribuição regular de hipoclorito por agentes de saúde da Fundação de
Vigilância em Saúde para o tratamento da água.
A
utilização de água da chuva para o consumo humano é uma alternativa que tem
sido empregada em diversas partes do Brasil, principalmente na região Nordeste
que enfrenta o problema histórico da seca. Na região amazônica, a medida deve
alcançar 10,1 mil famílias, o equivalente a mais de 50 mil pessoas, que residem
em comunidades distantes, que vivem em situação de vulnerabilidade social e
enfrentam o problema da falta de água potável e do isolamento nos período de
vazante do rio.
A
qualidade da água foi atestada através de uma pesquisa realizada pela Fundação
Oswaldo Cruz, ressalta o coordenador do Água para Todos no Amazonas, Luiz
Andrade. “Foi comprovado que a água da chuva é de qualidade.
Atende os parâmetros da legislação brasileira e só precisa, no caso dos
parâmetros biológicos, receber o tratamento com o hipoclorito”, frisou.
No
último sábado (23), a equipe do programa fez o cadastro nas comunidades de
Manacapuru (a 79 quilômetros de Manaus). Na comunidade Sempre Viva, alguns
moradores, beneficiados no antigo Pró-Chuva, possuem o sistema de caixas d’água
para aproveitamento da chuva, mas ainda assim bebem água de má qualidade porque
não recebem o tratamento com o hipoclorito.
Na
casa do estudante Moab Souza, 20 anos, água para beber só a que tem guardada no
balde no chão da cozinha. Ele conta que chega a navegar mais de um quilômetro
de canoa para pegar água no poço artesiano mais próximo. “Aqui é muito difícil.
Agora vai ser melhor. A gente vai ter a certeza de que a água é tratada”,
disse.
Mesmo
sabendo que a água do rio que banha a comunidade não é própria para o consumo,
a aposentada Iracilda Neves, 62, a utiliza para beber e cozinhar. Ela relata
que também costuma pegar água da chuva, mas não faz o tratamento adequado. “A
água é um pouco escura, mas a gente usa para beber e fazer comida e tomar banho
também”.
Segundo
Andrade, do ponto de vista sanitário, a água retirada diretamente do rio não é
potável, conforme os parâmetros de qualidade hídrica estabelecidos pelo
Ministério da Saúde. “No período de cheia, a gente tem em abundância, mas
a qualidade dela não é potável e precisa de tratamento. No período da seca, é
totalmente imprópria para o consumo e, na maioria das regiões, a água sofre um
processo de fermentação porque esquenta e isso a deixa imprópria para o consumo”,
ressaltou.
Um
total de 16 municípios será beneficiado em todo o Amazonas. Além de Manaquiri,
Itacoatiara, Anamã, Caapiranga e Manacapuru, onde o trabalho já começou, as
ações vão chegar a Beruri, Canutama, Lábrea, Boca do
Acre, Pauini, Tapauá, Anori, Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro, São Gabriel
da Cachoeira e Careiro da Várzea.
Coordenado
pela SDS, o programa está orçado em R$ 44 milhões com recursos do Plano Brasil
sem Miséria do Governo Federal. Durante as ações, os agentes também fazem a
inscrição para o Bolsa Família. Cem famílias de baixa renda, que ainda não eram
atendidas pelo programa, já foram identificadas.