Um indígena da etnia Kanamari, de 37 anos, foi preso pela Polícia Militar do Amazonas em Eirunepé, a 1.159 km de distância de Manaus, suspeito de ter matado um agricultor com uma facada no peito. Segundo a PM, o caso ocorreu no fim da noite de ontem, quinta-feira (6). De acordo com o cabo Coelho Neto, o suspeito e a vítima, de 24 anos, estavam às margens do rio Juruá, no perímetro urbano da cidade, quando o crime ocorreu por volta das 23h. O policial não soube informar o que teria motivado o assassinato. Outros dois índios e um não indígena estavam no local, conforme relatos do cabo Neto. Ferido, o agricultor caminhou cerca de 200 metros até conseguir ajuda no batalhão policial da cidade, de onde foi levado a um hospital. O homem, segundo o cabo, morreu antes de chegar à unidade de saúde.
Depois de ser acionada, a polícia conseguiu localizar o indígena, supostamente, envolvido no caso. Ele está detido no distrito de polícia de Eirunepé. Os outros homens não foram localizados até o momento. O policial Coelho Neto informou ainda que o índio detido apresentava sinais de embriaguez. Nesta semana, o juiz estadual Leoney Figliuolo Harraquian, da Comarca de Eirunepé, determinou, por meio de portaria, a proibição da venda de bebidas alcoólicas a índios e limitou a permanência dos indígenas em até 48h na sede do município amazonense. O magistrado justificou o ato pela situação de vulnerabilidade social enfrentada pelos povos indígenas e a degradação provocada pelo alcoolismo na região. A portaria com as determinações foi publicada no último dia 21 de fevereiro e o cumprimento das medidas deve ser verificado pela Funai. Para o policial, medidas como estas ajudam a proibir o uso inadequado de álcool, mas a norma ainda é muito desrespeitada, segundo ele. "É comum esse tipo de ocorrência envolvendo álcool e índio. Por mais que tenha essa portaria para coibir a venda de álcool, é difícil de controlar", disse. A Polícia Civil, informou por meio da assessoria de comunicação, que aguarda a chegada de representantes da Funai para dar início às investigações. Cerca de cinco mil índios das etnias Kulina e Kanamari vivem em aldeias localizadas em Eirunepé, região Sudoeste do Amazonas. Todos os meses os indígenas deixam as aldeias vão até a cidade para ter acesso aos benefícios sociais do Governo Federal. Entretanto, muitos não retornam às aldeias e ficam vagando nas ruas da cidade, consumindo bebidas alcoólicas. De acordo com o juiz Harraquian a portaria é uma resposta à inércia da Funai em relação aos problemas decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas pelos índios. O magistrado afirma que a população cobra soluções. "A Funai tem que tomar uma iniciativa para proteger o índio, que deixa a aldeia e fica perambulando na cidade. Toda vez que vou a Eirunepé vejo essa situação e a Funai não faz nada para mudar essa realidade. Ela acha que é responsabilidade do poder público, alegando que se trata de problema de segurança pública", afirmou o juiz. Figliuolo relata que crianças e até bebês indígenas ficam nas ruas sem hospedagem, alimentação e higiene, acompanhando os pais enquanto ingerem bebidas alcoólicas. "Uma vez vi um índio bêbado com duas crianças pequenas jogadas no meio da rua. Tive que acionar a polícia para retirá-los da via, pois corriam risco de ser atropelados. A situação é tão crítica que tem um índio preso desde dezembro na cidade porque matou a esposa e ambos estavam bêbados", revelou o magistrado. "A Funai os abandonou", lamenta Harraquian. -