Em depoimento ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM), na manhã desta quarta-feira (29), o prefeito de Coari, Adail Pinheiro, reconheceu que é dele a voz na gravação de uma ligação celular interceptada pela Polícia Federal. A voz do prefeito foi identificada em um dos diálogos telefônicos com outros suspeitos de participar de uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes no Amazonas. Nas gravações, eles conversam sobre o aliciamento de menores para relações sexuais. A reportagem do Portal D24AM apurou que, apesar de reconhecer a própria voz, Adail disse que não consumou o abuso sexual contra menores de idade.
O advogado de Adail, Alberto Simonetti Neto, informou ao MP-AM que pedirá que a gravação não seja usada como prova, pois segundo ele, as escutas foram feitas sem autorização judicial.
Conforme o promotor de justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional de Crime Organizado (CAO-CRIMO) do MP, Fábio Monteiro, ainda que a gravação não seja usada como prova, Adail pode ser incriminado por pedofilia, exploração sexual de menores e formação de quadrilha, a partir do restante das evidências.
"É cedo para emitirmos um parecer. O que podemos dizer é que tudo que já apuramos, ainda que o Inquérito Civil Público esteja em andamento, converge para incriminá-lo. Agora, estamos na fase de ouvir as pessoas envolvidas, tanto as vítimas quanto os acusados", disse.
Cerca de dez vítimas de exploração sexual apresentaram denúncias ao MP-AM desde dezembro de 2013, segundo Monteiro.
"Tem crescido a lista de vítimas. Elas retratam que os fatos ocorreram há muito tempo. Tem até vítimas que atualmente são adultas, casadas e que sofreram abuso quando eram crianças", comentou.
Conforme Monteiro, após o fim dos procedimentos investigativos, que deve ser concluído em duas ou três semanas, o procurador-geral do MP, Francisco Cruz, receberá o material.
”O procurador-geral vai analisar e decidir se há elementos suficientes para denunciar, e oferecerá a denúncia ao Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, ou se será arquivado”, disse.
A promotora de justiça Leda Mara, que também atua no inquérito, afirmou que uma equipe do MP-AM irá, nas próximas semanas, a Coari (município a 372 quilômetros a oeste de Manaus) para colher depoimentos de mais vítimas e testemunhas.
"Estamos nos preparando para ir ao município. Não tenho dúvidas de que, com a visita a Coari, novas vítimas apareçam", disse.
Escolta
Ao sair do MP-AM, Adail foi orientado por um policial militar a seguir por uma saída alternativa destinada a promotores e servidores do órgão, evitando a saída principal no qual estava a imprensa.
Conforme o tenente-coronel da PMAM, Negreiros, a escolta foi questão de segurança.
“A única menção em relação a isso é a segurança do prédio e das pessoas próximas ao prédio. Foi um procedimento interno e não para criar empecilhos para a imprensa”, justificou.
O promotor Fábio Monteiro explicou que o fato será investigado. “Quem decide sobre a necessidade ou não de uma saída alternativa de quem venha a depor é o titular do procedimento. É obvio que esse procedimento precisará ser apurado, pois não cabe a Polícia Militar, ou a quem quer que seja, decidir sobre saídas alternativas das pessoas que vêm depor”, afirmou. “Em nenhum momento, nos passou pela cabeça, do prefeito receber um tratamento diferenciado. Nos choca e nos causa uma surpresa saber que a polícia militar, dentro do MP, dê um tratamento alternativo ao prefeito sem nos ouvir”.