Chegamos a remar quase 100 km em um único dia tendo em vista os
grandes vazios demográficos no Rio Juruá e as poucas pesquisas que aí
tivemos oportunidade
de realizar. As margens inundadas e pródigas em piuns determinaram uma
mudança de rotina de somente aportarmos no nosso destino depois de remar
uma média de 8h30 diárias ou quando precisássemos coletar informações
sobre as comunidades. A ingestão d’água ou alimento foi feita no meio do
rio com o propósito de evitar o assédio desses terríveis insetos. As
comunidades ribeirinhas são formadas por verdadeiros heróis e na acepção
literal da palavra e não naquela que a mídia sensacionalista prima em
empregar. Os “heróis midiáticos” não seriam capazes de suportar uma
semana se quer o desafio cotidiano das barrancas da bacia do Juruá.
A histórica insalubridade da região agravada pela falta de
políticas publicas de longo prazo que melhorem as condições de vida da
população tem provocado um êxodo continuo para os grandes aglomerados
urbanos, o grande número de eleitores concentrados nessas regiões faz
com que os politiqueiros de plantão não se preocupem com a rarefeita
população marginal de cujo voto não dependem, absolutamente, para se
eleger. A Amazônia precisa com urgência de um ministério que trate de
suas endêmicas e seculares questões. Carece de planos plurianuais e não
de medidas emergenciais que atendam apenas as necessidades eleitoreiras
momentâneas de seus idealizadores e que não solucionam os problemas que
se arrastam há décadas, quero deixar aqui patente meu apreço por estes
homens e mulheres que nos acolheram no seio de suas casas e comunidades,
partilharam suas refeições conosco, nos contaram suas histórias de vida
e ouviram emocionados nossos relatos conquistando por fim nossos
corações e mentes.
- Movimento Pró-Acre
A proximidade física de Guajará e de Ipixuna, municípios do sul do
Amazonas criaram uma dependência extrema ao Estado do Acre através de
Cruzeiro do Sul, e está ligado ao resto do país, ainda que precariamente
pela BR 364. A distância dos grandes centros do Estado do Amazonas, a
dificuldade de atendimento as questões sanitárias e educacionais
agravadas pelos problemas de abastecimento no período da estiagem vem
simulando um movimento sutil que ambiciona que os municípios de Guajará e
Ipixuna passem a integrar o estado do Acre e não do Amazonas. É
interessante verificar que um estado que tanto lutou para que o Acre
fosse integrado ao seu território se veja agora envolvido num processo
que coloca em risco sua própria integridade.
- Ipixuna, AM (09.01.2013)
Pela primeira vez desde que iniciamos nossas amazônicas expedições
estamos encontrando sérias dificuldades logísticas e consequentes
implicações financeiras. A ausência de um suprimento de fundos para
arcar com as despesas de combustível com a lancha de apoio tem sido o
item mais preocupante. Felizmente, em Ipixuna, a promessa feita pelo
empresário Sr. Abraão Cândido se realizou e além de conseguirmos
autorização para aportar nossas embarcações no seu porto flutuante,
fomos abastecidos com 115 litros de combustível gratuitamente. Estes
“ermos sem fim” determinam que só tenhamos a possibilidade de abastecer
daqui a 570 km em Eirunepé dificuldade que se estende até a foz do
Juruá. A quantidade de combustível que precisa ser carregada a bordo
aumenta consideravelmente o seu consumo. Este fator acrescenta uma
dificuldade maior ainda a essa já tão complexa e difícil missão de
descer de caiaque os 3000 km do Juruá e os 900 km de sua foz, pelo
Solimões, até Manaus.
Mais uma vez agradecemos à pronta e gentil acolhida, em Ipixuna de
nossos caros amigos da Polícia Militar do Estado do Amazonas, na pessoa
do seu comandante o Primeiro Tenente Rodney Barros Ferreira, que
providenciou hotelaria, abrindo mão de seu próprio quarto no hotel
e o de um de seus auxiliares para nos acomodar, além de providenciar
três refeições diárias aos membros da expedição durante esses dois dias
de permanência na sua cidade. Faço votos para que em Eirunepé tenhamos a
ventura de encontrar outros amigos de mesmo quilate.
